Depois de um parágrafo importante e ao mesmo tempo desnecessário, vamos direto ao ponto. O romance cômico que li recentemente chamou bastante minha atenção. Da mesma maneira que livros significantes me chamam. Não só a mim. A Luneta Mágica é mais uma obra-prima de Joaquim Manuel de Macedo. O mesmo autor de "A Moreninha" fez questão de deixar a história de Simplício, protagonista do romance, um tanto sofrida e ao mesmo tempo instigante. O resultado disso? Um livro sensacional e que nos coloca em um panorama bastante reflexivo em relação à vida e as pessoas que a cercam.
Simplício sofre de miopia. Tanto física quanto moral. É praticamente guiado pelo mano Américo, que é importante no ramo dos negócios e até mesmo da política do Rio de Janeiro. 'Nosso protagonista' vive rodeado por seus familiares: A tia domingas, o próprio Américo e a prima Anica. No meio de tamanha tristeza do jovem em relação à seu problema de miopia, Reis (bom homem e dono de um armazém) o apresenta a um velho armênio que trabalha em seu 'depósito'. O próprio lhe dá uma luneta mágica, na qual Simplício poderá enxergar perfeitamente bem (como nunca). No entanto, se o mesmo fixar a luneta durante alguns minutos sobre algo e sem interrupções, ele chegaria a ver a 'visão do mal' de cada pessoa e até mesmo de animais/objetos.
O jovem, mesmo sendo alertado pelo velho armênio e sabendo dos riscos que isso traria à sua índole e até mesmo a própria visão dele sobre o mundo e as pessoas que o rodeiam, não obedeceu às recomendações do homem e fixou a luneta inúmeras vezes, por um bom tempo, em inúmeros objetos e conhecidos. Perdeu a confiança que antes fora depositada em seus familiares - como também a vontade de viver.
Na beira do abismo (quase que literalmente), o Reis o reapresenta ao armênio, que lhe dá, desta vez, uma outra luneta - que lhe proporciona conhecer a visão do bem, desta vez. E engane-se quem pensa que Simplício parou de sofrer. Ao contrário do que se parece um pouco óbvio, o protagonista do romance se apaixona por inúmeras melhores e se torna muito próximo de pessoas que só querem aproveitar de sua riqueza e bondade bastante inocente.
À beira do precipício (dessa vez, literalmente), o velho armênio, acompanhado do Reis, lhe dá uma nova luneta (desta vez, permanente) que salvará sua vida por completo. A luneta da vez lhe permitirá não só uma ampla visão, mas também discernimento o bastante para distinguir o bem do mal e as pessoas que valem à pena das que, digamos... Nem tanto. E essa é a reflexão que o livro nos traz. E essa a graça da vida. Refletir... E viver.
Até a próxima!